Compostos bioativos extraídos de alimentos oferecem benefícios que vão além da nutrição básica e movimentam mercado bilionário
O mercado global de produtos nutracêuticos deve crescer de US$ 357 bilhões, em 2022, para US$ 561 bilhões em 2032, segundo relatório da Spherical Insights & Consulting.
A projeção indica uma taxa composta de crescimento anual de 4,62% durante o período, refletindo o interesse crescente dos consumidores por alternativas que combinam nutrição e benefícios terapêuticos.
O termo “nutracêuticos” surgiu da junção entre nutriente e farmacêutico, sendo definido como um alimento ou parte dele que acrescenta benefícios à saúde e promove a prevenção ou tratamento de doenças, administrados em forma farmacêutica de doses concentradas, conforme explicam pesquisadores do Programa de Educação Tutorial da UFPB no boletim BIP-Farmácia.
O termo foi usado pela primeira vez em 1989, pelo médico Stephen DeFelice, e ganhou força quando a Foundation for Innovation in Medicine, nos Estados Unidos, definiu nutracêuticos como “uma substância que pode ser um alimento ou parte de um alimento que fornece benefícios medicinais, incluindo a prevenção ou tratamento de doenças”.
Embora a legislação brasileira ainda não tenha nomenclatura oficial para o termo, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) reconhece substâncias bioativas como nutrientes ou não nutrientes com ação metabólica ou fisiológica específica, embasada pela Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 2 de 2002.
Popularização dos nutracêuticos
O comportamento do consumidor é apontado como principal fator para a popularização dos nutracêuticos. Dados do Instituto Nacional de Cardiologia (INC) reforçam essa tendência ao mostrar que, em 2023, a parcela da população brasileira com sobrepeso (38,45%) superou pela primeira vez o percentual de pessoas com peso na faixa adequada (36,93%), enquanto a obesidade alcançou 24,62% dos indivíduos.
Neste contexto, pesquisadores alertam que o ritmo acelerado da vida moderna compromete a manutenção de hábitos alimentares saudáveis, criando um cenário no qual os nutracêuticos, ao receberem a dose recomendada de ômega 3 e outros compostos, passam a ser vistos como aliados na promoção da saúde.
Diferenças entre nutracêuticos e suplementos
A principal distinção entre nutracêuticos e suplementos alimentares reside na origem dos compostos. Os primeiros são obtidos diretamente a partir do alimento, como o licopeno extraído do tomate ou a creatina pura monohidratada derivada de fontes naturais.
Já os suplementos alimentares consistem em uma mistura de substâncias isoladas que incorporam ao organismo micronutrientes em deficiência.
A Anvisa os define como “produto para ingestão oral, apresentado em formas farmacêuticas, destinado a suplementar a alimentação de indivíduos saudáveis com nutrientes, substâncias bioativas, enzimas ou probióticos, isolados ou combinados.”
Os alimentos funcionais, por sua vez, fazem parte da alimentação diária e, devido ao valor nutritivo e à constituição química, promovem melhorias no estado de saúde.
Exemplos incluem alimentos ricos em ferro, ômega-3, ômega-6, antioxidantes e licopeno, encontrados em brócolis, beterraba, tomate, espinafre e rúcula.
Benefícios para saúde e estética
Os nutracêuticos são projetados para melhorar a saúdepor meio de efeitos antioxidantes, anti-inflamatórios e moduladores do sistema imunológico, conforme informações de mercado.
Na área da estética, ganham destaque pela capacidade de fotoproteção oral, com nutrientes como carotenoides (betacaroteno, licopeno e luteína), polifenóis derivados da semente de uva e vitaminas C e E auxiliando na proteção interna contra os efeitos dos raios UV.
O ômega-3, um dos nutracêuticos mais conhecidos e encontrado principalmente em óleos de peixe e linhaça, possui propriedades anti-inflamatórias que auxiliam no tratamento de doenças como câncer, asma e rinite, além de reduzir o risco de doenças cardiovasculares.
Para praticantes de atividade física, substâncias como o próprio ômega-3 e o resveratrol ajudam a reduzir a dor muscular pós-treino e aceleram o processo de recuperação.
Classificação e regulamentação dos nutracêuticos
Os nutracêuticos são classificados em três categorias principais: fonte alimentar, propriedade funcional e natureza química, conforme análise do grupo PET-Farmácia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
Quanto à fonte alimentar, podem ser de origem vegetal (como o licopeno), animal (como o ácido docosa-hexanóico do ômega-3) ou de bactérias e leveduras (prebióticos e probióticos).
No Brasil, embora os nutracêuticos não tenham regulamentação específica, são considerados suplementos alimentares para fins regulatórios, segundo a Resolução do Conselho Federal de Farmácia N° 661, de 25 de outubro de 2018.
A prescrição deve ser feita por profissionais habilitados, incluindo farmacêuticos, médicos, nutricionistas, biomédicos e fisioterapeutas, sempre após avaliação da necessidade individual.